segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Afinal, de quem é a culpa?

Louise escreve em seu blog, Rosas Inglesas e é colunista do JB.
 

Por que somos tão dominados por essa estranha e infindável arte de culpar? Tudo tem uma causa, uma conseqüência e, é claro, uma culpa. Ninguém mais responde por si – para tudo há um culpado, e nós atacamos de Sherlock Holmes, lupas em punho, tentando desvendar o grande mistério da humanidade: quem é o culpado por tudo isto?

Isto o quê? Essa desordem, essa catástrofe, essa barbárie que não acaba nunca. Uns botam a culpa no aquecimento global. Esse aí, coitado, é o que mais sofre acusações, da professora de geografia ao leigo que mal lê o jornal. Claro, ninguém faz nada para parar o aquecimento global: ele é irreversível, inabalável, e a culpa é dele, só. Como se ele fosse uma força sobrenatural que se cria sozinha, e nós fôssemos a vítima. Não seríamos nós os pais do monstro?

E tem também o governo. Cada político ladrão. Cada absurdo escancarado. Cada cara de pau sem tamanho. Culpado. E foi o povo quem elegeu. Culpa do povo também. Ainda bem que não fazemos parte desse povo. Ainda bem que não fomos nós quem o construímos. Abdicamos de nossos direitos de cidadãos apenas para culparmos mais um.

E, finalmente, o grande culpado da vez: a crise mundial. Perdeu o emprego? Crise mundial. Gastou mais do que devia? Culpa da crise. Não pode viajar? A crise parou os aeroportos. A crise é vilã, e nós somos os mocinhos, correndo dela como loucos depois que provocamos sua fúria.

Escondemos nossa culpa nas próprias circunstâncias que criamos. E esses fantasmas as assumem, para que possamos nos livrar delas, até que possamos criar outra circunstância para culpar. E essa brincadeira de Sherlock Holmes continua, até que possamos perceber que estamos perseguindo nossas próprias caudas. Elementar, meus caros: a culpa é toda nossa.

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